Imagem: Ilustrativa
“Como professora e administradora escolar, adquiri o hábito de pensar as pessoas como fontes maravilhosas de sentimentos e reações nem sempre expressadas de forma fácil de se compreender. Continuo convivendo diariamente com as crianças, embora em doses homeopáticas (risos). Das turmas com 30, 35 por hora em sala de aula ou até de 1200 por dia na direção de escola, passei a dois diariamente, meus netos, um com quatro e outro com dez anos. Com eles ainda aprendo a ver o mundo como algo mágico que se oferece para ser desbravado. Com os adultos procuro exercitar a compreensão e aprender a força de se lidar com a realidade”
“Quem planta a tamareira não colhe suas tâmaras”
Quando me sentei aqui para escrever, me lembrei de um vendedor de doces árabes que conheci há algum tempo. Foi trabalhando na recém-inaugurada Pão & Companhia, um projeto arrojado que fazia pesquisas de tipos de pães pelo mundo e os trazia para serem feitos ali mesmo, nas suas lojas, em Belo Horizonte. Ali eram experimentados pelos clientes que se sentiam atraídos não só pelos produtos, uma vez que as lojas iniciais se tornaram também ponto de encontro de pessoas interessantes.
Compartilhando os sabores exóticos que ali eram encontrados, elas gostavam de usar o espaço de degustação também para trocar ideias. Entre uma fatia de pão jamaicano, com seu doce sabor de banana e um croissant derretendo luas de diferentes recheios no céu da boca, a conversa fluía sobre vários temas e opiniões.
Este vendedor, de quem vou excluir o nome - para não expor uma pessoa que não sei se gostaria de se ver relatada - vinha toda semana e trazia os doces folhados deliciosamente recheados de mel e outras iguarias como castanhas e frutas, que eram feitos por sua família. Ele era também, como integrante de família criada nas Gerais, um bom contador de “causos” e sempre achava um tempinho para trocar uns dedinhos de prosa.
Foi dele que ouvi uma história que era passada oralmente entre os árabes, uma parábola que ficou gravada em minha mente e que sempre me volta à memória em certas situações.
Pois bem, contavam que havia um velho senhor cujo trabalho era plantar tamareiras no deserto, no oásis onde morava. Este senhor foi um dia interpelado por um jovem que se espantou com o trabalho a que ele voluntariamente se dedicava, pois, naquele tempo era sabido que uma tamarareira só dava frutos após uns bons 90 anos do seu plantio. Aquele senhor, já em idade avançada, obviamente não teria mais vida para tantos anos de espera.
Sorrindo o velho respondeu ao jovem:
- Quem planta uma tamareira sabe que não comerá as suas tâmaras. Se hoje eu e você conhecemos o sabor das tâmaras é porque alguém, que também sabia que não as comeria, se deu o trabalho de plantá-las. Além disso, mesmo as jovens palmeiras que ainda não estão prontas para frutificar aqui estão, dando sombra e embelezando o nosso deserto. Nos mostrando que é preciso ser forte e resistente e ter paciência para que o tempo faça o seu trabalho.
Pouco tempo depois, passei no concurso da Prefeitura e fui dar aulas nas escolas da PBH. Esta parábola sempre me acompanhou no trabalho de ensinar filhos de outras famílias e mesmo em algumas situações nas quais me vi incluída sem saber direito o porquê de estar ali naquele momento.
Hoje sabemos que com os avanços da tecnologia e da engenharia genética, uma tamareira já é capaz de produzir tâmaras após apenas 4 anos do seu plantio. Isto também é algo que me faz pensar, principalmente quando leio as notícias do que estamos fazendo com os rios do nosso estado de Minas Gerais.
Fica aqui o meu questionamento, o que estamos praticando nos dias atuais? Aceitamos que só vale a pena plantar uma tamareira para aqueles que irão comer seus frutos?
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