Imagem Ilustrativa
O feijão queimou... O cheiro forte invade a casa, mas o olfato, pela mente distraído, não sente os cheiros dos grãos queimados. A mente do internauta faz o que é de seu ofício, mente e serenamente imerge no inodoro mundo das palavras que para ele foram digitadas, das imagens que foram selecionadas para evocar os pensamentos que se desenham à sua semelhança, como planejadamente pretendem controlar.
Qual é o cheiro da palavra escrita? Cheirará a coisas queimadas no braseiro do impensável? Terá o odor de campo novo se preparando para a fertilização?
Um aroma de pão que ainda assa no forno, quase no ponto de sair, se fazer alimento e força nutrindo a labuta diária e digna?
Terão as imagens a essência secreta, rara e cara, produzida pelo mais sofisticado entre todos os hábeis perfumistas?
Ou serão, palavra e imagem, uma Quimera inodora, um monstro criado para roubar na memória do seu leitor todos e quaisquer dos perfumes, tomar para si as variadas e significativas emanações voláteis que seu hospedeiro já inalou e delas se apropriou, que já arquivou e aprisionou nos subterrâneos do inconsciente. Aquelas que jazem agora em seu poder num estado de animação suspensa, à espera do primeiro sinal que as trará novamente a vida. E ela, a Quimera-Vampiro, tem a chave que abrirá os arquivos, o sinal que marca o despertar destes cheiros, como um pilão que socando o café torrado embebe o ar ao seu redor.
Cheiros que também só pertencem ao mundo virtual, não existem fora deste espaço, não serão inalados por outros narizes que não apenas aquele de quem são prisioneiros, inexistentes para o resto do mundo.
Diferentemente das cores e dos sons que todos podem ver e ouvir, os cheiros que o mundo virtual sutilmente exala são mais pessoais e secretos que um arquivo protegido pelo mais potente e eficaz dos firewalls. Estão atrás das portas que interrompem e controlam os incêndios dos escândalos que consumiriam as reputações aparentemente ilibadas dos que nada de si revelam, dos que tudo do outro dizem saber ou ali criam para que outros pensem que também sabem.
Estes cheiros virtuais, imperceptivelmente roubados do inconsciente alheio são manipulados para se tornarem as emanações oportunistas exaladas pelos blogueiros que comandam e formam as opiniões dos usuários da internet. Subtraídos dos internautas que distraidamente navegam sem perceber que seus sentimentos de adesão ou de repulsa, de apoio ou de feroz crítica estão sendo moldados pela inhaca ou pelo aroma que estes outros agora controlam.
Intentam em nos controlar pelo nariz como naquelas argolas fixadas no focinho dos bois, argolas que servirão para prender as cordas com as quais serão puxados e controlados, rumo ao matadouro ou ao eito.
Aos bois, as argolas e cordas. Aos tolos, maldosos ou incautos a calúnia e o boato. A todos as consequências de uma escolha que feita, seja de forma descuidada ou consciente, haverão de vir pelo que a maioria decidiu.
ADVERTÊNCIA: Todas as informações e opiniões expressas nas colunas são de responsabilidade de seus autores.