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Estava lendo algumas reportagens e textos sobre o envelhecimento humano e me deparei com este questionamento. A princípio eu ri, pois foi numa revista que disponibiliza reportagens on line que eu sei que é daquelas que adora futilidades, exagera no estímulo à vaidade do corpo e faz mais mal do que bem, pois nos faz sentir quase que culpadas por não termos morrido jovens, na plenitude do vigor e da beleza física.
Já observaram o quanto é cruel se exigir que a pessoa esteja sempre dentro dos padrões ditos “aceitáveis”? Que se leve um ser humano a derrotar a si próprio com questionamentos sobre o próprio valor e utilidade para os outros? Utilidade que começa por não ofender os olhos alheios com as marcas que o tempo jamais deixará de produzir em um corpo vivo?
Isso me incomodou, me deixou desconfortável. Sinto muito, mas não consigo concordar com o argumento da obrigatoriedade da juventude perene. Tampouco me satisfaz o argumento que juventude é um estado de espírito, pois na linha que eu observei o desenrolar dos 60 serem os novos 40 – e li outros textos, em vários outros lugares- encontrei na maioria a mesma ideia, embora camuflada em alguns, de que o processo de envelhecimento é uma indignidade.
Por sorte minha, sou daquelas pessoas insistentes, que não desistem de acreditar que não existe nenhum pensamento absolutamente novo no nosso mundo. Tudo se desenvolve a partir de um princípio, alguém antes já teve uma centelha, um insight de todo o pensamento humano. Seja um filósofo renomado, um cientista respeitado, um espiritualista iluminado ou uma dona de casa atarefada, um jardineiro ensimesmado ou um andarilho observador, alguém com boa memória e que goste de pensar o que aprendeu por aí... Todos nós trazemos na nossa genética uma poeirinha do passado e isso nos faz sempre encontrar aliados em qualquer corrente que optemos por seguir.
Então, eu achei os meus aliados, encontrei vários textos que externavam meu pensamento com o mesmo e igual desconforto de aceitação da adoração da estética em detrimento do conteúdo, a prisão do ser enquadrado.
É nisso que eu vejo valor, a idade nos tira sim vários atributos mas nos acrescenta vários outros e é um desperdício se olhar uma pessoa idosa e depreciá-la de cara por conta sua aparência. Rugas são sim aceitáveis, cabelo branco não significa cabeça ruim e nem uma cintura menos definida define o valor de um desejo. Uma flacidez de tecidos não é moleza de caráter. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, como não?
'Idade...esse vento
Encrosta por fora
E lapida por dentro.
Maria Balé
Achei coisas lindas, com uma alegria quase imoral. E quero sim, continuar este texto e só vou parar por aqui hoje para não dar trabalho demais para o meu editor. Semana que vem, continuamos, se Deus assim o permitir! Até lá.
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