Vinte e sete pessoas que estavam internadas em uma clínica de reabilitação em Mateus Leme, na Grande BH, foram resgatadas pela Polícia Civil nessa sexta-feira (16). Segundo depoimentos das vítimas, que são dependentes químicas, elas sofriam tortura, eram privadas de alimentação e de cuidados médicos e recebiam ameaças, entre outras denúncias.
A corporação recebeu uma denúncia ainda na noite de ontem e foi até o local, na zona rural da cidade. De acordo com a delegada Lígia Barbieri Mantovani, responsável pelo caso, os policiais confirmaram que a clínica tinha uma estrutura precária, com camas quebradas e falta de higiene.
“Os internos relataram práticas de maus-tratos, privação de alimentação, privação de cuidados médicos, tortura, ameaça e outros crimes. Eles eram amarrados às camas nos braços, nas pernas e no peito como medida de contenção. Também usavam remédios para dormir por alguns dias, para evitar fugas ou reclamações”, detalha a delegada.
De volta às famílias
Depois de serem ouvidos pela Polícia Civil, os internos que eram maiores de idade foram levados de volta às suas famílias. Ainda segundo a delegada responsável pelo caso, algumas das vítimas moravam longe de parentes ou não tiveram nenhum familiar identificado. Nesses casos, elas ficaram sob responsabilidade da assistência social municipal e passaram a noite sob cuidados médicos no hospital.
A PC instaurou inquérito para apurar os crimes de lesão corporal, cárcere privado, ameaça e possível tortura. O gerente da clínica de reabilitação e outro funcionário prestaram declarações à polícia, e agora a corporação trabalha para identificar e ouvir os outros suspeitos.
A delegada Lígia Barbieri Mantovani ainda esclarece que a eventual interdição da clínica só pode ser feita de forma administrativa. A Polícia Civil oficiou uma denúncia à Prefeitura de Mateus Leme para que os processos administrativos sejam cumpridos.
Mais um caso
Ainda na quinta-feira (15), outra clínica de reabilitação foi alvo de operação da Polícia Civil, junto do MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) e da Polícia Militar. As corporações já haviam confirmado que os internos do local, que fica em Elói Mendes, no Sul de Minas, eram mantidas em condições degradantes, em operação de fiscalização deflagrada no início do mês.
Naquela ocasião, as vítimas, que são pessoas com vício em entorpecentes, foram resgatadas e enviadas de volta para as famílias. No entanto, na manhã de quinta-feira, a operação verificou que pelo menos seis delas já estavam de volta ao local, privadas de liberdade.
Segundo relatos dos internos, eles foram sequestrados de suas casas e levados à força para o “centro terapêutico” por funcionários do centro e com apoio de familiares.
Responsáveis presos
O proprietário da clínica; o irmão dele – que atua como “terapeuta”, mas é acusado de agredir fisicamente os internos –, e um sobrinho do proprietário – que atuava como monitor, responsável pela fiscalização dos internos – foram presos em flagrante.
Eles foram autuados pelos crimes de sequestro e cárcere privado triplamente qualificado (vítima maior de sessenta anos, privação da liberdade superior a quinze dias e com resultado de grave sofrimento físico e moral) e pelo crime de organização criminosa.
Uma quarta pessoa foi enquadrada no crime de embaraço à atividade fiscalizatória do Ministério Público e da Polícia Civil, previsto no Estatuto do Idoso. O homem, filho do proprietário do centro terapêutico, tentou coagir um senhor de 75 anos de idade a permanecer no centro, logo após o momento em que o delegado de polícia disse ao idoso que ele teria que sair daquele local e acompanhar as autoridades.
O homem foi conduzido à delegacia para os procedimentos de praxe e, por se tratar de crime de menor potencial ofensivo (pena máxima de um ano de prisão), foi liberado. Os três autuados foram encaminhados ao presídio de Elói Mendes.
Do BHAZ
Sete Lagoas Notícias
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