A compra de pacotes turísticos exige uma série de cuidados e precauções. A viagem dos sonhos, planejada o ano inteiro, pode virar pesadelo para a família se a empresa escolhida para prestar o serviço não for idônea, não tiver know-how ou não tiver clareza ao se comunicar com o cliente. Foi o que aconteceu com pelo menos 45 moradores de cidades da região que fecharam um pacote turístico para o réveillon com um empresa sem sede física que atua em Sete Lagoas e região. Entre eles, a comerciante setelagoana Vanda Ribeiro e a companheira de viagem Elani Gondim, de Curvelo.
De acordo com Vanda, um homem a procurou em seu local de trabalho para oferecer pacotes turísticos. Propôs uma viagem a Angra dos Reis-RJ contendo três diárias de hotel, com almoço e café da manhã por R$ 560,00 no pacote. Ela não só fechou o negócio para si como contratou o pacote para outras cinco pessoas da família, sendo três delas crianças.
O roteiro contratado previa saída de Sete Lagoas no dia 30 de dezembro de 2016, com volta prevista para o dia 2 de janeiro de 2017. No entanto, um dia após chegar ao destino, a família dela e os demais hóspedes da excursão foram despejados do hotel por falta de parte do pagamento combinado pela empresa operadora do pacote turístico. Apenas uma diária foi usufruída, de acordo com os turistas.
A falta de pagamento das diárias contratadas não foi o único problema, de acordo com a comerciante. “Nos prometeram hotel com piscina, café da manhã e almoço, acordo esse não cumprido”, diz Vanda. “Minha filha de oito anos começou a chorar, chorar, ter crise de choro quando viu o hotel totalmente diferente do que foi prometido. Nos prometeram um na frente da praia, mas o que foi contratado era longe, horrível, sem higiene”, complementa a professora Elani Gondim, de Curvelo, também compradora do pacote, com mais oito pessoas da família.
Foto: Wikipedia - Praia do Anil, a mais próxima do hotel, está interditada há mais de 20 anos pelo excesso de poluição
A praia que existe próxima ao referido hotel é a do Anil, interditada pela Prefeitura de Angra dos Reis há mais de 20 anos por conta dos altos níveis de poluição. Diante da situação, as duas turistas e os companheiros de viagem recorreram à Polícia Civil e fizeram um boletim de ocorrência, acusando a empresa que promoveu o passeio de estelionato. Para piorar a situação, na volta a Sete Lagoas, o ônibus fretado pela mesma empresa apresentou problemas e os cerca de 45 ocupantes ficaram quase 24 horas sem nenhum tipo de assistência na estrada, reclamando de sede, fome e esperando a solução, de acordo com os passageiros. “Havia crianças de um ano e meio de idade no meio do pessoal. A estrada estava um perigo, foi um sufoco”, conta Elani.
Foto: Arquivo pessoal - Viagem de volta foi tensa e desgastante para turistas mineiros
Alguns membros da viagem alegam que não conseguem mais contato com a empresa e que a página na internet usada para captar clientes e fechar negócios foi removida. Ao SeteLagoasNotícias.com.br, o representante da empresa Diturismo, Cristiano Fidelix, informou que o despejo do hotel não procede, que o que ocorreu foi insatisfação dos hóspedes quanto às condições encontradas e que eles haviam resolvido deixar as instalações por conta própria, restando a ele arcar com um passivo com o hotel por conta disso. Cristiano confirmou que retirou a página da empresa na internet e que promoverá a última viagem no próximo dia 13 de janeiro, para Cabo Frio-RJ. De acordo com ele, a Diturismo encerrará as atividades no próximo mês.
O empresário alega, ainda, que está movendo uma ação contra a empresa de ônibus que fretou para o retorno de seus clientes, por ela não ter avisado que o ônibus havia quebrado e que seus contratantes estavam sem assistência na estrada. Cristiano informou, também, que já negocia o ressarcimento dos valores pagos pelos pacotes contratados com alguns clientes que entraram em contato. “Eu nunca evitei ou deixei de atender telefone para conversar com ninguém. Eu estou à disposição de qualquer um... Isso aí foi uma pressão que o hotel fez para tentar receber de quem queria ficar lá dentro de graça. Mas em momento algum ocorreu a ordem de despejo.”, esclarece o empresário.
Cristiano diz estar no ramo há cerca de dois anos fazendo, em média, duas viagens por mês, com licença da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). De acordo com ele, o hotel foi contratado por R$ 6.500, dos quais foram pagos a maior parte. Restaram R$ 880,00 para serem quitados na hora, referentes à desistência das seis pessoas que não quiseram utilizar o hotel, por entender que ele não estava de acordo com o oferecido na contratação do pacote.
O hotel Canoas, contratado por Cristiano para receber os mineiros em Angra dos Reis, no entanto, rechaça essa versão. Por meio de uma representante que quis se identificar apenas como Fernanda, o hotel confirmou o despejo dos mineiros por falta de pagamento e diz que ainda tem valores a receber do empresário. Ainda de acordo com o hotel, Cristiano sustou um cheque de R$ 1.700,00 que seria usado para pagar parte das diárias e que por isso os hóspedes foram despejados. “O pessoal era para ter saído meio dia, mas nós concordamos que eles saíssem até as 18h. Eles também foram lesados, eles não tinham culpa”, diz Fernanda.
Dicas
A coordenadora-geral de Turismo do Ministério do Turismo, Isabel Barnasque*, recomenda ao viajante se resguardar de imprevistos. “É pedir à agência, com antecedência, documentos como confirmação da reserva do hotel, nota de débito ou recibo da fatura, passagens com assento marcado, além do roteiro e programação da viagem. Em caso de cancelamento por parte da empresa sem autorização do cliente, o consumidor poderá acionar os órgãos de defesa do consumidor”, explica.
Outra recomendação do Ministério do Turismo é pedir sempre uma via do contrato de prestação de serviço para a agência. O contrato deve ser lido atentamente para esclarecer todas as dúvidas antes da assinatura. Muitas vezes, esses documentos trazem textos confusos, incompletos e ambíguos, que podem causar transtornos ao consumidor na hora de exigir seus direitos.
Da Redação
* Com informações da Agência Brasil