A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) emitiu um decreto na sexta-feira (9), que a partir desta segunda-feira (11), apenas empreendimentos que ofertam serviços essenciais poderão receber clientes presencialmente na cidade. O objetivo é reduzir o contágio pelo novo coronavírus.
Mas, com contas atrasadas, funcionários, fornecedores e empréstimos para pagar, vários empresários planejam manter as portas abertas, em um movimento chamado “desobediência civil”, mesmo sob o risco de interdição do empreendimento e do recebimento de multa de R$ 17 mil.
Dono de uma loja que vende celulares e acessórios ligados à telefonia móvel na região de Venda Nova, na capital, Emerson Parreira, 39, é um dos que vão preferir a clandestinidade a assumir o risco de falência do negócio. “Não posso me dar ao luxo de ficar fechado nem por quatro horas. Tenho R$ 10 mil de contas fixas e não tenho de onde tirar dinheiro depois de um ano tão difícil como foi o de 2020. Já demiti dois funcionários e quero tentar manter os dois que restam”, diz.
E ele não está sozinho. A proprietária de um salão de beleza na região Noroeste de Belo Horizonte, que pediu o anonimato, garante: “Vou continuar atendendo sim. Fechar é completamente inviável porque tenho as despesas fixas. Claro que vou tomar todos os cuidados porque essa doença não é brincadeira, mas não tenho escolha”, afirma.
Outro salão de beleza, que também terá o nome preservado, inclusive oficializou aos clientes, por meio de e-mails, o funcionamento durante o período de proibição. “Gostaríamos de informar que, este salão, tendo em vista a imperativa necessidade de sobrevivência e manutenção da viabilidade das nossas atividades, estará funcionando para atendimento às nossas clientes e amigas de forma muito especial”, diz o texto. A reportagem entrou em contato com o proprietário do salão, que prometeu retornar a ligação, o que não ocorreu até o fechamento desta edição.
Manifestação
A opção de descumprimento do decreto, que antes era uma decisão de alguns empresários de forma individual, ganhou força coletiva depois que alguns grupos começaram a sugerir o que eles chamam de “desobediência civil” para derrubar a medida da prefeitura. Para pressionar a reabertura das empresas na capital, uma manifestação vai acontecer na manhã de hoje, na porta da prefeitura.
“Muitos empresários estão falando que vão manter as empresas abertas por ser uma decisão que vai levar à demissão de muitas pessoas e à falência de vários negócios. Esse encontro não tem ligação com política e, sim, com cidadania. Por isso, estamos esperando a maior manifestação dos últimos dois anos em BH”, afirma o fundador do grupo Verdade e Vida, Caio Bellote, um dos que têm fomentado o movimento. Transporte público
O metrô que liga a capital a Contagem vai operar das 5h40 às 11h30 e das 15h30 às 21h30, com as 19 estações abertas. Já em relação a ônibus, alterações de horários começaram no sábado com base em julho, quando houve o primeiro fechamento do comércio em BH, e, segundo o sindicato, ao longo da semana, as demandas por viagens serão avaliadas, e adaptações poderão ser feitas.
Academias começam a desligar nesta segunda-feira
Também proibidas de funcionar a partir de hoje, as academias de BH começam a fazer as contas de como sobreviver a mais um fechamento. E uma das soluções será o corte de funcionários.
“Não podemos funcionar às escondidas como dá para fazer em salão de beleza. Então, boa parte das academias vai desligar os estagiários já nesta segunda e suspender contratos de funcionários”, afirma o presidente do Grupo das Academias Responsáveis e Éticas (Gare), Marcus Hofman. Dono de quatro academias na capital, ele pretende fazer o mesmo com os cerca de cem funcionários. “Vou comunicá-los nesta segunda”, diz.
Já Marco Antônio Vecchia Xavier vai esperar para decidir o que fazer nas duas academias que tem na capital. Para ele, a situação não está nada confortável: “Nos seis meses em que as academias ficaram paradas, acumulei contas. Estou com ordem de despejo e gastei R$ 40 mil em readequação para as medidas de segurança sanitária. Não tenho caixa para aguentar”.
Entidades pedem apoio e sugestões
Mesmo admitindo todas as dificuldades que os empresários têm passado, as entidades que os representam dizem não ser favoráveis ao descumprimento da ordem de fechamento das portas. Entretanto, elas pedem uma solução da prefeitura para salvar o comércio e os serviços, que, juntos, fecharam 19,5 mil postos de trabalho em BH em 2020, segundo o Caged.
“Ninguém vai aguentar mais um fechamento como o que ocorreu. A recuperação ainda não aconteceu, e agora nem temos as ajudas que o governo federal ofereceu”, diz o presidente da Câmara da CDL-BH, Marcelo de Souza e Silva. Quanto à ‘desobediência civil’, ele afirma que é “isso é muito ruim”. “Não podemos nem brincar com isso. Mas chega um ponto em que as pessoas entram em desespero”, conclui.
Para o presidente da Associação dos Lojistas do Hipercentro, Flávio Froes, “é uma ideia sedutora, porém é importante lembrar que isso implica quebra de lei”.
O presidente da ACMinas, José Anchieta da Silva, acredita que a saída é o diálogo. Ele propõe que alguns empresários, apoiados pela associação, arquem com novas UTIs.
Posição
A PBH informou que mantém o diálogo e fez um planejamento para a fiscalização da cidade e promete multar e interditar quem descumprir as regras. Segundo o infectologista do Comitê de Enfrentamento da Covid-19 da prefeitura Estevão Urbano, expectativa é que o fechamento dure ao menos duas semanas: “Foi necessário fechar pra reduzir a movimentação das pessoas e desmobilizar a transmissão por ao menos 14 dias”.
Por O Tempo
Sete Lagoas Notícias