Tabagismo, alcoolismo e sexo oral. Além de riscos já conhecidos associados às práticas, como o vício em cigarro e as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), elas estão associadas aos cânceres de cabeça e pescoço. O alerta é feito por especialistas durante o “Julho Verde”, campanha de atenção à prevenção e à detecção precoce das enfermidades, que mataram mais de 8.000 pessoas nos últimos cinco anos em Minas Gerais.
Dados da Secretaria de Estado de Saúde de Minas (SES-MG) apontam que há mais de 22,7 mil casos das doenças no Estado. Entre 2019 e 2024, 8.645 pessoas morreram vítimas de cânceres de cabeça e pescoço. Eles são considerados letais, pois a maior parte dos casos são detectados em estado avançado. Para especialistas, o diagnóstico precoce é a única forma de garantir o tratamento bem-sucedido.
O chefe do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Fernando Dias, explica que práticas como do tabagismo, alcoolismo e sexo oral são as principais causas dos cânceres de cabeça e pescoço. O câncer de pele na região do rosto também é um fator que preocupa os médicos.
“Pessoas de pele mais clara estão mais expostas a esse risco [de câncer de pele]. E não precisa ser um perfil de quem vai à praia todo dia. Só o fato de sair na rua com as áreas do corpo descobertas sem proteção, como pescoço e rosto já pode favorecer o desenvolvimento de câncer cutâneo. A pessoa deve se proteger. Agora, o que preocupa muito são os tumores no trato aerodigestivo superior, que engloba a boca, garganta, a faringe, a laringe e por onde a gente respira. Estão expostos ao desenvolvimento desse câncer os usuários de tabaco com as bebidas alcoólicas, principalmente os destilados”, disse o especialista.
Sexo oral aumenta risco de câncer?
Fernando Dias pontua que a primeira medida a ser feita é a campanha de conscientização para que as pessoas saibam que o consumo das duas substâncias, que são lícitas e causam dependência, podem favorecer o aparecimento do câncer.
“Além desses dois fatores há outro, responsável por diversas publicações na literatura médica, que é a infecção pelo HPV. Sabemos que também pode determinar desenvolvimento do câncer na área que chamamos de garganta. Nas amígdalas e área por trás da língua, que também é esse tipo de tecido linfóide. Quando infecta essa área, o vírus tem predileção por entrar nos tecidos linfoides e, depois de uma década, pode fazer com que surja um câncer. Importante que as pessoas saibam também que, embora esse seja um fator que não tem nada a ver com tabagismo e etilismo, a associação dos dois faz com que o prognóstico do paciente seja pior, seja mais difícil tratar esses doentes. Se a gente olhar no hemisfério norte, 70% dos tumores da garganta estão associados ao HPV, que é fruto do sexo oral anogenital”.
O especialista também chama atenção à importância da vacina contra o HPV. “No Brasil ainda não conseguimos observar essa mudança do perfil epidemiológico com pacientes do câncer da garganta, mas fica bem claro pelos estudos. Esse tipo de câncer está em ascensão. A ideia é que não só as meninas têm que ser vacinadas contra o HPV, mas os meninos também. Isso surte efeito a médio e longo prazo, é outro ator nesse cenário do câncer de cabeça e pescoço”, frisou.
Atualmente, os cânceres de cabeça e pescoço têm afetado mais os homens acima de 55 anos. “Isso ocorre porque são associações e hábitos mais ligados aos homens, muito embora o hábito do tabagismo e etilismo há algumas décadas também tenha sido associado a paciente do sexo feminino. Mas o perfil de risco é o homem, que fuma e bebe e que tem mais de 55 anos, a faixa etária em que essas coisas fazem efeito no sentido de precipitar o aparecimento de câncer”, explicou.
A estratégia de prevenção é agir nos principais fatores de risco. Ou seja, cessar o tabagismo, reduzir o consumo de álcool, evitar exposição ao sol sem proteção (bloqueador solar nos lábios e uso de boné ou chapéu) e não praticar sexo oral sem preservativo para prevenir o contágio pelo HPV. É recomendado também tomar a vacina contra HPV, oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas e meninos de 9 a 14 anos, pessoas imunossuprimidas e vítimas de violência sexual. Recentemente, ela também foi liberada para usuários da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), medicação gratuita que previne contra a infecção pelo HIV.
Feridas na boca que não cicatrizam em até 15 dias, sangramentos sem motivo aparente, nódulos no pescoço, dor na garganta persistente, incômodo ao engolir, mudança na voz ou rouquidão são sinais de alerta para o câncer de cabeça e pescoço. “Deve-se procurar um serviço de odontologia quando há o sintoma na região da boca e um otorrinolaringologia quando há mudança de voz ou dificuldade para engolir", orienta Fernando Dias.
Mais frequentes
Dentre as neoplasias de cabeça e pescoço, o câncer de lábio e cavidade oral estão entre os mais prevalentes. Entre 2019 e 2024 foram diagnosticados 3.504 casos do câncer de orofaringe e 2.976 casos da doença na língua e mais de 30 mil internações associadas ao câncer de cabeça e pescoço. Cerca de 66% delas estavam relacionadas ao câncer de boca.
Esse é o quinto tipo de câncer mais incidente no Brasil, mas seu índice de cura pode chegar a 90% se tratado precocemente. “Quando o diagnóstico é feito na fase inicial da doença, as chances de cura são muito altas”, destaca o médico cirurgião Guilherme de Souza Silva, coordenador do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Alberto Cavalcanti.
Tratamentos dos cânceres de cabeça e pescoço
O chefe do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do INCA, Fernando Dias, explica como é feito o tratamento de cânceres de cabeça e pescoço. Quando o paciente é diagnosticado com um tumor inicial, o tratamento é mais simplificado, podendo ser utilizada a cirurgia ou apenas a radioterapia.
Já o tratamento em tumores avançados envolvem cirurgias mais agressivas com reconstrução e transplante de osso. “Além disso, esse paciente quase que certamente vai ser submetido a complemento da cirurgia com radioterapia e quimioterapia”, explica.
Associação do HPV
Um artigo publicado em 2023 pelo pesquisador Hisham Mehanna, da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, rodou o mundo, com o título “Sexo oral agora é o principal fator de risco para o câncer de garganta”. O professor diz que, "misericordiosamente, apenas um pequeno número de pessoas [que praticam sexo oral] desenvolvem câncer de orofaringe. O porquê, entretanto, não é claro”. A teoria mais aceita, diz ele, é que a maioria das pessoas que têm contato com o HPV consegue se livrar do vírus natural e completamente, sem sequer perceber sintomas. A comunidade médica estima que 80% dos adultos sexualmente ativos já tiveram contato com o HPV, porém nem todos desenvolvem a doença.
Quanto mais alguém avança em sua vida sexual, maiores as chances de contrair HPV eventualmente. Mas mesmo quem já foi infectado alguma vez na vida deve se vacinar. “Existem vários subtipos de HPV, e pode ser que a pessoa pegou o que não é o mais cancerígeno. Tomando a vacina, protege-se de outros subtipos”. A vacina contra o HPV protege contra quatro tipos do vírus: 6, 11, 16 e 18. Dois deles, o 16 e o 18, estão associados ao surgimento de câncer”, explica o infectologista Alexandre Moura.
Por O Tempo
Sete Lagoas Notícias
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