Dois casos envolvendo um autor e um suspeito de estupro, relacionados à vontade de moradores do Bairro Monte Carlo de fazer justiça com as próprias mãos, desafiam a Polícia Civil de Sete Lagoas. Um deles culminou no linchamento de Márcio José dos Santos, de 37 anos, na noite da última sexta-feira (25), na Rua Irmã Flávia.
Márcio era funcionário de uma empresa de transportes e foi espancado até a morte por moradores do bairro. Ele tinha passagem pela Polícia por um estupro cometido em Delta, no Triângulo Mineiro, e já era conhecido no Monte Carlo, segundo a Polícia Civil.
Natural de Alagoas e sem parentes em Sete Lagoas, Márcio chegou a ser dado como desaparecido dois dias após sua morte. Preocupados com seu sumiço, colegas de trabalho registraram um Boletim de Ocorrência na Polícia Civil e, mais tarde, foram convocados para reconhecer seu corpo no Instituto Médico Legal (IML). O corpo do motorista havia sido levado para lá sem identificação, já que seus documentos não foram encontrados no local do crime, quando a Polícia Militar compareceu para fazer o Boletim de Ocorrência.
“Nós verificamos que em Delta, cidade próxima de Uberaba, ele tinha passagens por estupro naquela região. A ex-mulher dele foi ouvida aqui ontem e confirmou que ele tinha essas passagens lá”, esclarece o delegado Alexandre Viana Corrêa, responsável pela Delegacia de Homicídios em Sete Lagoas.
No mesmo Monte Carlo, outro suspeito de estupro, um morador de rua, identificado apenas como Fabrício e apelidado de “Sabá”, já havia causado a ira da população ao invadir uma residência e tocar no rosto de uma criança, no último dia 13 de janeiro (saiba mais).
Por conta dessa suspeita, dias depois, Sabá quase foi linchado no centro da cidade. A Polícia Militar conteve os ânimos de pessoas que o identificaram e passaram a agredi-lo (clique e relembre).
Fotos: Reprodução - Imagem de Márcio (esquerda) foi divulgada em redes sociais após sua morte; Foto de Sabá é compartihada com frequência no WhatsApp
Revolta
A Polícia Civil investiga se o linchamento de Márcio tem relação com a comoção e revolta causados também pela presença de Sabá no Monte Carlo, portador de sofrimento mental e velho conhecido dos policiais. Há uma linha de investigação que aponta que Márcio tenha sido linchado por engano, embora essa seja a hipótese menos provável, segundo o delegado responsável pelo caso.
O delegado também investiga se Márcio foi espancado pelo fato de os agressores, já revoltados com a presença constante de Sabá no bairro, terem descoberto suas passagens pela Polícia. Além de acusado de estupro, o motorista ainda havia sido preso por ameaça à ex-amásia, após ela prestar queixa à Polícia.
Foto: Ana Amélia Maciel - Delegado Alexandre Viana Corrêa está à frente das investigações sobre o linchamento de Márcio José dos Santos no Monte Carlo
“O que levou a população a linchar uma pessoa e se isso foi por engano ou não foi, não dá pra fazer essa afirmação com tranquilidade, de forma oficial. É um caso que tem uma complexidade, porque envolve a investigação em outras delegacias”, pondera o delegado.
O responsável pela Delegacia de Homicídios explica que as investigações estão no início e que ainda há poucas informações sobre a atuação de Sabá no Monte Carlo, já que os casos de estupros são direcionadas à Delegacia da Mulher.
Segundo Alexandre Viana Corrêa, as imagens de circuitos de segurança da vizinhança e os vídeos que circularam em redes sociais mostrando a selvageria serão usados para identificar as pessoas que espancaram Márcio até a morte. “O que temos até agora é só o fato de que ele foi linchado na rua, pela população. Crimes assim são difíceis de conseguir testemunhas, até porque você não sabe se a pessoa foi mesmo uma testemunha ou se participou do linchamento. Se ela participou do linchamento, não vai te dar uma informação confiável”, observa.
Suspeito solto
Já a delegada Daniela dos Santos Silva, da equipe de Atendimento à Mulher da Polícia Civil, confirmou que Sabá está solto e que ocorrem investigações preliminares da participação dele no caso envolvendo a menina de 2 anos, no último dia 13 de janeiro. A delegada afirma que é necessário saber, primeiro, se houve crime sexual ou apenas a invasão de domicílio no Monte Carlo. Ela também diz que não há indícios de estupro, de acordo com o Boletim de Ocorrência registrado pela Policia Militar. Depoimentos ainda serão colhidos para aprofundar a investigação do fato, segundo Daniela.
A delegada destaca, ainda, que não há registro de outros casos envolvendo Sabá, apesar de ele ser acusado em redes sociais de ter invadido outras residências. Ela destacou a importância de as pessoas denunciarem qualquer ação envolvendo invasão de domicílio, importunação sexual, estupro ou abuso, passando o máximo de informações. A denúncia pode ser feita de forma anônima pelo 181 Disque Denúncia. Porém, ela recomenda que o melhor é procurar a delegacia diretamente, pois a vítima é a peça chave em uma investigação.
Já sobre Márcio José dos Santos, a delegada afirmou que o caso dele ainda não está sendo investigado pela Delegacia de Mulheres, uma vez que não há nenhum registro de ocorrência com participação dele em Sete Lagoas ou em municípios sob responsabilidade da sua regional.
Da Redação
Colaborou Ana Amélia Maciel
Sete Lagoas Notícias