Embora o Governo Federal tenha anunciado medidas imediatas atendendo a maioiria das reivindicações do movimento dos caminhoneiros, que entra no oitavo dia de paralisação nesta segunda-feira (28), o desbastecimento em todo o país já é sentido de maneira severa pela população. Postos vazios, escassez de alimentos nas gôndolas dos supermercados, rebanho morrendo no campo, transporte público parado e unidades de saúde sem insumos básicos é o cenário na maioria das cidades brasileiras
A categoria ainda mantém os bloqueios em todo o país. Polícias estaduais, Polícia Federal e tropas do Exército negociam a saída dos manifestantes das estradas e fazem escoltas para liberar a saída de caminhões-tanque de refinarias.
As medidas anunciadas na noite deste domingo por Michel Temer, em resposta às reivindicações dos caminhoneiros, foram tomadas logo depois que representantes da Associação Brasileira de Proteína Animal estiveram no Palácio do Planalto e anunciaram tanto para o governo quando para os líderes do movimento que o rebanho do país corre sérios riscos, com estoque de rações para apenas dois dias.
A mortandade dos animais, segundo a associação, provocaria não só um grave problema de saúde pública, pelo fato de ser impossível lidar com bilhões de corpos de animais mortos, como também a interrupção de um ciclo produtivo que levaria mais de oitos meses para se restabelecer, agravando ainda mais o desabastecimento de proteínas na mesa do brasileiro.
Medidas Provisórias
Com a edição de três medidas provisórias, publicadas em edição extra do Diário Oficial da União, o Governo Federal anunciou:
1) A redução de R$ 0,46 no preço do litro do diesel. Isso corresponde aos valores do PIS/Cofins e da Cide, somados. Segundo Temer, o governo irá cortar do orçamento, sem prejuízo para a Petrobrás;
2) A garantia de congelamento do preço do diesel por 60 dias. Depois disso, o reajuste será mensal, de 30 em 30 dias;
3) Será editada uma Medida Provisória para a isenção de eixo suspenso em praças de pedágios, tanto em rodovias federais, como nacionais;
4) O estabelecimento de uma tabela mínima de frete, conforme previsto no PL 121, em análise no Congresso;
5) A garantia de que não haverá reoneração de folha de pagamento no setor de transporte de carga;
6) A reserva de 30% do transporte da carga da Conab para motoristas autônomos.
Sufoco
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, denunciado por corrupção ativa pelo Ministério Público Federal e alvo da Operação Lava Jato, demonstrou preocupação com a paralisação de caminhoneiros. "A economia brasileira está sendo asfixiada. Todos estamos na iminência de um grave conflito social", relatou, em comunicado.
O governo acredita que haja a participação de patrões, empresários do transporte e distribuição na greve. Já foram abertos 37 inquéritos, em 25 Estados, para investigar a prática de locaute. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, 400 multas já foram aplicadas, que juntas somam pouco mais de R$ 2 milhões. As lideranças do movimento, no entanto, negam a acusação de locaute e dizem que os protestos são legítimos, contando com o apoio de toda a sociedade. Eles negam, inclusive, que estejam provocando falta de insumos hospitalares, uma vez que esse tipo de carga não está sendo impedida de ser transportada.
Desmobilização e resistência
O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, pediu que motoristas que protestam nas rodovias em todo o Brasil "levantem acampamento e sigam a vida", tão logo o governo anunciou as medidas no Diário Oficial.
O líder estima que a normalização do abastecimento ocorra entre oito e dez. Fonseca Lopes foi um dos dois líderes dos caminhoneiros que deixou a reunião na quinta-feira que resultou no primeiro acordo que não conseguiu acabar com o protesto nas ruas.
Questionado sobre como assegura a saída dos caminhoneiros das estradas,ele disse que a decisão depende dos motoristas. "Mas quero fazer um apelo a todo mundo que segurou o movimento até agora", disse. "Ele sabe que chegou o momento de ele fazer isso", completou, ao lembrar que o acordo firmado no domingo foi maior que o pedido, já que terá a redução de R$ 0,46 por litro de diesel por 60 dias e outras ações, como a tão esperada tabela de preço para o frete.
Mesmo com a edição das três medidas provisórias para atender às demandas da categoria, o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos (Sindtac) de Ijuí-RS, Carlos Alberto Litti Dahmer, acredita que ainda haverá resistência de cerca de 10% dos caminhoneiros.
"Não é uma pauta econômica, é a pauta política. Pra esses, que têm uma posição muito mais extremista, esse acordo ou qualquer acordo não ia funcionar, porque a intenção não é de resolver o problema da categoria. É de criar o caos, a instabilidade, e aí esses evidentemente vão nos criticar muito fortemente por conta disso", apontou Dahmer.
"É o melhor acordo do mundo? Não, não é. Temos muitas pautas ainda a tratar com o governo. No entanto, isso aqui com conquistas históricas é o que dá, é o que vai fazer e o que vai desmobilizar com toda a certeza", completou Dahmer
Região
Na BR 040, até as 10h as manifestações persistiam na altura do KM 506, em Ribeirão das Neves, e na entrada de Bel;o Horizonte, no KM 511, com o trânsito liberado para veículos de passeio. As informações são do último boletim da Via 040, concessionária que administra a rodovia.
Em várias regiões do estado, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), até as 10h40 havia registros de bloqueios parciais nas BRs 262, 381, 050, 116, 153, 365, 459 e 251. As interdições ocorrem apenas para veículos de carga.
Da Redação
Com Agências, atualizado às 10h46
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